"Aqueles que conhecem o amor conjugal podem compadecer-se de nós, crendo que não sabemos o que é o amor. O amor de Deus percebido na fé, em uma fé obscura, é mais seguro, mais próximo, mais doce, mais forte, mais tranqüilizador e também mais embriagador que qualquer outro amor. Nós temos na fé uma certeza que nenhuma outra experiência pode dar. Assim é o sentido da Escritura : «Eu casar-me-ei com você na fé» (Ives Raguin. Célibat pour notre temps).
A Resposta Humana.
Esta chamada de Deus dirige-se a um ser humano livre. Deus propõe, não se impõe. Hoje em dia surge a dificuldade que pode provir da compreensão da chamada. A vida contemplativa é pouco conhecida e freqüentemente pouco apreciada; está tão afastada e, às vezes, é tão contrária aos costumes do mundo moderno, que poucos estão preparados para experimentar seu atrativo. Não obstante, hoje, como ontem, há candidatos que continuam a bater às nossas portas. Que esperamos deles?
Um desejo profundo de consagrar a sua vida à oração e à busca de Deus no amor « Tenho sede do Deus forte e vivo, quando verei a face de Deus? » (Sal 42. 2) Este ideal contemplativo deve ser acompanhado pelo atrativo da solidão, já que é nesse ambiente que decorre a maior parte da vida do monge. Entretanto, porque os cartuxos não são ermitões em sentido próprio, a parte da vida em comum não se deve desvalorizada. Entre outras qualidades indispensáveis, oequilíbrio e o juízo reto ocupam o primeiro lugar. Ainda pode-se acrescentar: a maturidade afetiva capaz de preparar-se para um compromisso de vida, o espírito de fé e abertura que esteja disposto a se deixar guiar pela obediência, e a saúde suficiente.
A chamada à vida cartusiana manifestar-se-á freqüentemente por um desejo que pode aparecer de repente, ou após uma experiência espiritual importante, ou, pelo contrário, amadurecer pouco a pouco ao longo dos anos. Na prática, não é fácil julgar à distância com exatidão sobre os próprios atrativos e aptidões. Devido a isto, será necessário um ou dois retiros mais ou menos prolongados numa Cartuxa, para discernir a chamada de Deus. Várias etapas deverão, pois, respeitar-se.
Os Estágios da Formação.
Se alguém pretende incorporar-se num mosteiro, deve, antes de tudo, amadurecer seriamente seu desejo na oração. Tal decisão não deve tomar-se sem antes refletir. Depois deve pôr-se em contato com um mosteiro, expondo o melhor possível o que o atrai para a vida cartusiana. Em resposta, seguramente lhe pedirão alguns informes necessários acerca dos seus estudos, sua família, etc. Se parecer oportuno, ser-lhe-á proposto fazer um retiro no mosteiro, para que possa ter uma experiência deste gênero de vida. Fora de casos vocacionais como estes, os cartuxos não aceitam pessoas que desejam fazer retiros. Se a experiência for positiva, pode acontecer que ainda se lhe peça que demore por certo tempo a entrada, para provar (tempo chamado pré-postulantado) ou, ao contrário, que lhe seja permitido entrar no mosteiro quando lhe parecer bem.
Postulantado e Noviciado.
Ao entrar no mosteiro, o candidato começa o postulantado que durará de três meses a um ano. E terminado este, se a sua vocação se confirma, tomará o hábito do cartusiano e começará o noviciado, que dura dois anos. A seguir vêm os votos temporários por três anos os quais serão depois renovados por mais dois anos. No final, tem lugar a profissão solene, pela qual o monge se compromete definitivamente perante Deus e perante a Igreja. As pessoas de menos de 45 anos são as adequadas para empreender este gênero de vida cartusiano.